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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Economia: Sobretaxa de importação contra calçado chinês

A concorrência considerada desleal com o calçado chinês está aguçando para que os brasileiros tomem medidas radicais. O comércio de calçados chineses no país provocou cerca de 42 mil demissões nos últimos meses. Assim, a Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) deve adotar, nas próximas semanas, medida de proteção ao calçado brasileiro.
A taxa pode chegar a 25 dólares a cada par de calçado chinês que entrar no país.

No último mês, a Folha Online - dinheiro trouxe uma discussão relevante sobre a medida proposta: sobretaxa contra calçado chinês deve encarecer tênis.

Assim, o que pode ser uma medida para preservar a economia brasileira e os empregos do setor, está para se tornar um problema para o consumidor e varejistas.

Os tênis de alta performance, que hoje chegam ao consumidor por R$ 500 em média - segundo os fabricantes de tênis - chegará a R$ 750.

Marcelo Ferreira, presidente da Adidas do Brasil, argumenta: "O consumidor vai ter o acesso aos produtos cerceado, os mais favorecidos irão a Miami, e o contrabando voltará a explodir."

Mas é outro o entendimento da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), que pediu a medida antidumping. Além de a competição com a China ser injusta, os fabricantes de tênis são capazes de produzir no Brasil todos os modelos, inclusive os de alto desempenho.


Nem todos os fabricantes têm a mesma posição. A Alpargatas, das marcas Mizuno, Topper e Rainha, e outras indústrias já vieram a público discordar do pedido de sobretaxação. Especificamente, eles querem que os tênis que custem acima de US$ 10 sejam excluídos da medida.

Os filiados à Abramesp (Associação Brasileira do Mercado Esportivo), que reúne Nike, Adidas, Asics e Puma, dizem fabricar até 60% dos tênis vendidos no Brasil, o modelo de negócio de suas empresas concentra a produção de determinadas linhas em alguns países. "Além de não termos tecnologia no Brasil, falta escala", diz Ferreira, que preside a Abramesp. "Como vou produzir aqui mil pares de alguns modelos, que é quanto o mercado nacional consome?"

Milton Cardoso, presidente da Abialçados, diz que os fabricantes já tiveram essa tecnologia, deixada de lado com a decisão de concentrar a produção na China. Afirma também que o consumidor não vai sofrer com o aumento de preços, porque as grandes marcas não vão querer perder o mercado brasileiro, o quinto maior consumidor mundial, e passarão a produzir aqui, com preços menores.

Enquanto o argumento para a sobretaxa é defender os empregos na indústria, os varejistas afirmam temer pelas vagas em sua área. Segundo Adriano Obeid, sócio da Authentic Feet, que tem 90 lojas, os tênis de alto desempenho representam entre 30% e 40% das vendas. São eles, porém, que atraem consumidores que sonham com a chuteira de Kaká ou Ronaldinho. "O marketing das marcas é mundial e feito em cima desses produtos", diz Obeid. "Imagina ter uma Copa sem que ninguém consiga comprar os tênis top de linha?"

Outros empresários do varejo estão revendo planos de investimento para abertura de novas lojas. Sebastião Bonfim, dono do grupo SBF (lojas Centauro, ByTennis e Nike Sportswear), declara ter linha de crédito de R$ 280 milhões aprovada pelo BNDES e que poderia gerar 1.400 empregos. "Só que, se houver essa sobretaxa, vamos criar vagas em Miami", diz.


Atualmente, indústria calçadista emprega cerca de 300 mil pessoas, em mais de 7 mil e 500 fábricas. A produção anual chega aos 800 milhões de pares.

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