A seguinte notícia me causa um leve sentimento de justiça, mas ainda não me basta. A informação divulgada ontem, 12, no site do jornal O Globo é de que o Ministério da Educação (MEC) cancelou 143 bolsas do PROUNI. Fico feliz que, finalmente, tenham acordado para o fato de que as Instituições de Ensino Superior (IES) formam uma grande máfia sob o programa.
Não quero tornar este texto um poço de lamúrias, mas eu senti na pele o que é ter o próprio esforço “jogado no lixo”.
Sabe-se que para participar do programa é necessário fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Concluí o 2° Grau ( como era chamado o Ensino Médio) em 1996, quando ainda não existia o ENEM. Em suma, participei das edições de 2002, 2003, 2004 e 2007. Quero destacar aqui minhas notas nas 3 últimas participações: (2003) 74,60 Conhecimentos Gerais e 97,50 na Redação; (2004) 61,90 Conhecimentos Gerais e 90,00 na Redação; (2007) 63,49 Conhecimentos Gerais e 72,50 na Redação.
Fiz inscrição para o PROUNI em 2004 , solicitando bolsa integral para o Curso de Jornalismo na Universidade do Sagrado Coração (USC) em Bauru. Tive minha inscrição aprovada, claro, porque minhas notas estavam dentro de um grupo de 15% no país. A segunda etapa é levar à IES os documentos que comprovam as informações cadastradas na inscrição e aguardar a aplicação de uma redação ( era assim naquele ano). Aguardei o telefonema que avisaria a data da avaliação. Ninguém ligou. Resolvi ligar para a USC e ninguém soube dar informação. Na véspera da data que estava prevista a prova decidi ligar novamente. Fui informada que meu nome não estava na lista e sequer haviam documentos com meu nome ali. Quando argumentei que levei os documentos pessoalmente, ouvi a seguinte frase: “Você não deve ter sido selecionada, então”. Como eu poderia ser selecionada se nem sequer havia feito a bendita prova classificatória, afinal? Lembro-me claramente do dia em que fui levar os documentos à Universidade quando encontrei na sala de espera algumas pessoas “aparentemente” classe média alta. Vale ressaltar que no dia da entrega dos documentos, a instituição não havia sido orientada sobre os procedimentos para recebimento da documentação e todos ficaram “meio perdidos”.
Em 2007, aconteceu algo parecido. Estava concluindo o 1° ano de Comunicação Social nas Faculdades Integradas de Jaú, quase nem pagando as parcelas (naquela situação “se pago faculdade, não pago aluguel). Decidi tentar novamente participar do PROUNI, fiz a inscrição para a mesma faculdade que já cursava. Resumo: colegas de classe proprietários de bens como automóvel, motocicletas, cartão de crédito, etc, foram aceitos. Mais uma vez, a “titia” aqui ficou de fora. Abandonei o curso.
Então leio um artigo, também publicado no jornal O Globo intitulado “Enem novo vestibular ou nova cortina de fumaça?” É para se pensar muito bem no caso de uma reforma nas políticas educacionais. Recentemente, colaborei com a revista VEJA, encaminhando propostas ao projeto O Brasil que queremos ser. Dentre as idéias que encaminhei e foram aprovadas pelos editores, coube justamente uma crítica sobre o sistema de seleção para ingresso às Universidades: “Primeiro sugiro acabar com o vestibular - pelo menos da maneira como é elaborado. O que se vê nos vestibulares das entidades públicas é uma prova clara de ligação com sistemas educacionais enlatados (Cursinhos). Como os governos podem observar, alunos de ótimo desempenho no ENEM não tem um desempenho relevante para entrar numa Universidade. É uma situação muito comum. Sugiro que seja feita uma reavaliação dos vestibulares públicos, para que haja adequação de real acessibilidade e isonomia ao direto da Educação.”
Eu, já na casa dos 30, desisti de brigar. Mas não quero ver meus sobrinhos e amigos queridos passarem pelo mesmo processo injusto, discriminatório e favorecedor de “minorias”.
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